sexta-feira, 27 de abril de 2012

Lições da minha avó.





Entre as peculiaridades de minha avó se destacava o silêncio, ela sabia usar essa qualidade como poucos o conseguem, sempre foi de poucas palavras e um sorriso contagiante, quando tinha mais pessoas na casa dela, em especial nos sábados à tarde ou nos domingos, era comum ouvir meus tios, tias, primos entre outros falando em voz alta, nessas ocasiões não consigo sequer recordar a voz dela, ainda que sociável, suas palavras eram raras.

Seu silêncio se destacava ainda mais se porventura ocorresse alguma discussão mais acalorada, ou se por algum motivo ela fosse contrariada, esse último era muito raro, ela era uma pessoa que nunca pedia nada a ninguém, e sempre era grata e se dava por satisfeita por qualquer coisa que lhe era oferecida de forma que contrariá-la não era uma tarefa fácil, entre as poucas coisas que cobrava, era a presença e mesmo essa não precisava ser tão freqüente, bastava que não ficássemos distantes por muito tempo.

Nessas ocasiões quando conseguiam que ela ficasse alterada, o que igualmente requeria um trabalho árduo, ela proferia uma frase fatal. “Já que não adianta falar nada eu vou me calar.” Na seqüência ela se retirava de onde estivesse ocorrendo a discussão e se dirigia à cozinha vindo a se ocupava de seus afazeres.

Imediatamente se instalava um mau estar em todos que estivessem na casa, por um tempo significativo ela ficaria sem falar com ninguém e visivelmente amuada.

Aos poucos as pessoas se retiravam, e mesmo na semana subseqüente, quando novamente ocorria as visitas ainda que recebesse todos bem, o silêncio permanecia.

Evidentemente esse mau estar não durava muito, meus tios, pais, e possivelmente ela própria faziam de conta que o mau estar havia caído no esquecimento, e a dinâmica familiar voltava ao seu cotidiano.

Agora, defronte a uma pessoa que vejo semanalmente, devolvo o silêncio que tão sabiamente aprendi com a minha avó. Acabo de ouvir uma conduta totalmente inadequada dessa pessoa, conduta essa que se repete rotineiramente.

Essa pessoa me olha, visivelmente irritada e me pergunta, mesmo sabendo que não obterá uma resposta: “E então, o que eu faço?”

Novamente devolvo o meu silêncio, é o melhor que tenho a doar para essa pessoa nesse momento.

Como ocorria na casa de minha avó, uma sensação de mau estar ocupa todos os cantos da sala onde nos encontramos.

Transcorrido alguns instantes essa pessoa me diz: “É, eu sei, com leve sorriso despontando de seus lábios, isso já ocorreu outras vezes, e já falamos sobre essas questões anteriormente.”

Encerro a conversa e acompanho essa pessoa à porta, confirmando nosso próximo contato na semana subseqüente.

De volta à minha sala, me sinto como quando era criança, na casa de minha avó, rodeado por várias pessoas e ela em seu silêncio sorrindo para as pessoas, mas como era seu hábito, sem nada dizer.

Em uma tarde de garoa como essa, agora ela deve estar rodeada por pessoas que lhe são familiares, possivelmente ela se encontra em uma cozinha, fazendo um café, cujo cheiro toma conta de toda a casa, com bolinhos de chuva, cobertos com canela e açúcar para acompanhar.


Esse é um episódio não muito fictício.

domingo, 22 de abril de 2012

Dia da Terra.


Ela não nos pertence.
Nós é que somos uma pequena parte dela.
Ela não precisa de nossos cuidados.
Nós é que necessitamos aquilo que ela pode nos dar.
Ela produz tudo que é necessário à manutenção da vida.
Nós é que subtraímos dela muito mais do que necessitamos.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

Papéis.


Papéis são seres dotados de
intensa sexualidade,
quando a gente se distrai
eles se relacionam loucamente
e se reproduzem sem parar.

Diagramação: Marion.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Tempo.


O antes,
o agora e o depois
estão sempre ocorrendo
à nossa volta,
ao mesmo tempo.