domingo, 27 de setembro de 2009

Sem Tempo Para o Não Fazer. (LOUNEW.)


Nós, que vivemos na grande metrópole, sempre estamos corrende atrás de alguma coisa: um compromisso, o trabalho, as compras, etc. e a agenda sempre lotada.

Quando olhamos para trás, o tempo voou e já estamos no dia seguinte, a postos para dar conta de outro compromisso. Ser produtivo, para nós, é sinônimo de ter o que fazer.

Muitas vezes estamos tão atrelados aos afazeres que não nos é possivel relaxar nem nos finais de semana ou nas merecidas férias. Estamos lá na praia, mas ainda absortos com os afazeres. Fazendo equações, diálogos internos para resolver questões que tanto ocupam nossa atribulada rotina. Deixamo-nos seduzir, nos apegamos e nos identificamos com ela, pois, no final das contas, o nosso fazer é que diz quem somos. E com todo este ritmo alucinante, esquecemo-nos do corpo, que mais cedo ou mais tarde, cansado, cobrará.

E se ainda precisamos ouvir música, fazer palavra cruzada ou lavar o carro quando estamos sózinhos;isto pode ser indício de que está dificil a convivência com nós mesmos.

Podemos até refletir: será que não se tornou insuportável viver dentro desse corpo, em nossa própria companhia?

Com tudo isto, fica dificil se entregar ao que eu chamaria de não fazer. Somos ocidentais e aprendemos, com nossa cultura, a ser racionais. Não nos sentimos em nossos corpos, ficamos fazendo só o trabalho mental, desprezando o agradável contato silencioso com nós mesmos.

Já pensou em se deixar levar pelo não fazer, sem deixar ser pego pelos pensamentos ou preocupações? Ou pelo menos deixar que o fluxo de pensamentos aconteça sem se envolver com eles, só observá-los? Abrir mão da possibilidade do fazer, pois em nossas vidas, muitas vezes, as coisas acontecem sem nossa interferência. Afinal de contas, estamos aqui para nutrir o corpo ou a alma? ou ambos?

Precisamos urgente de um tempo para o não fazer. Ir a algum lugar, por exemplo, um parque para contemplar a calma paisagem, um jardim florido e respirar o perfume das flores, sentir o toque da relva, andar descalço pela grama, etc. Experimentar a entrega pessoal ao simples contemplar.

Quando vamos para o campo ou para a praia, só a visão da natureza notre a alma. É o movimento necessário (talvez fundamental) de esquecer o que está dentro de nós e se entregar ao que está fora. O cantor, compositor e pensador Fecundo Cabral nos ensina: você não está deprimido, está distraído das coisas belas que te rodeiam.

Observar a natureza ilumina a alma, acalma o espírito e torna o nosso viver muito mais rico e agradável. Respirar fundo e desfrutar deste momento é sublime. Aí o não falar reverbera dentro de nós e sentimo-nos mais inteiros e sabendo-se pertencentes à natureza, a este planeta. As flores, com seu perfume, enchem nossas narinas e a vida fica mais fresca, mais gostosa. É neste não fazer, nesta ausência de expectativa que sentimos o fascínio e a riqueza do viver.

Pode ser que esteja dificil ir a um lugar mais tranquilo, mas também vale fechar os olhos, respirar fundo e desacelerar. O não fazer pelo não fazer, apenas aquietando a mente e prestando atenção à respiração, aos batimentos cardíacos nesta sua morada temporária. Uma meditação na qual o indivíduo se torna um mero observador indiferente de seus pensamentos, sem atropelar o fluxo dos mesmos, aceitando que pode ser simplesmente uma conexão ao acaso entre os acontecimentos.

Por mais que a rotina seja imperativa, necessitamos nos desligar dela. E assim, talvez algum dia, achemos tempo para o benéfico e importante não fazer. E então, numa destas desconexões, nos seja possivel encontrar o que tanto falam os mestres espirituais, a tão famosa essência, o nosso verdadeiro SER.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da Simbiose ao Mundo das Relações - continuação

O Egocêntrico e Sua Relação com o Ambiente
  • Hoje é o dia da árvore, um bem a ser preservado. Essa foi a primeira frase que me veio à mente para ser usada como uma mensagem àqueles com quem partilho minha amizade. Na sequência, repensando eu a alterei e ficou assim: Hoje é o dia da árvore, um bem a ser cultivado.
  • Curiosas as duas frases, inda que minha percepção é a de que esse mundo nos foi "cedido" para partilhar com os demais que aqui convivem e assim, nessa escala evolutiva não somos nem mais nem menos que qualquer outra espécie, logo árvores como outros seres não podem ser consideradas um "bem".
  • Mesmo nas duas frases havendo uma conotação de cuidados, respeito,... elas também não deixam de projetar minha arrogância frente a esse mundo no qual não deixei de considerar a vida de outros seres como um "bem" disponível para atender meus designios.
  • Triste, já são 16h00 e até o momento a única menção que presenciei foi uma pequena nota de rodapé em um informativo no mundo virtual perdida entre inúmeras propagandas, a maioria sem qualquer conotação ecológica.
  • Paradoxal enquanto presenciamos os desastres que continuamos a impor a esse fragilizado mundo, uma data como essa passar despercebida.
  • Símbolo de vida, expressa nossas raízes mais primitivas. Desenhos de crianças de árvores "doentes" trazem a conotação de uma possivel constituição de personalidade fragilizada.
  • Nós que convivemos nos grandes centros raramente nos damos conta de quanto as árvores ao nosso redor estão doentes, seus troncos apodrecidos, sem espaços para suas raizes, não deixam de ser a projeção de uma sociedade igualmente doente.
  • Ao permitir que esses símbolos percam seus significados de certa forma, no mesmo compasso perdemos as características que nos sustentam enquanto seres que fazem parte desse microcosmo, para ocupar a posição egocêntrica que coloca o ambiente como um objeto para satisfazer nossos caprichos.

sábado, 5 de setembro de 2009

O que ocorrer com a terra...




"O que ocorrer com a terra,

recairá sobre os filhos da terra.

Há uma ligação em tudo."
  • "No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos fez a uma tribo indígena a proposta de comprar grande parte de suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva". O texto da resposta do Chefe Seatle, distribuído pela ONU (programas para o Meio Ambiente) é aqui publicado na íntegra, tem sido considerado, através dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente."
  • "Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuimos o frescor do ar e o brilho da água, como é possivel comprá-los?
  • Cada pedaço dessa terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagradas na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
  • Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs: o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem, todos pertencem à mesma família.
  • Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos, portanto nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra, mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
  • Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados, se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
  • Os rios são nossos irmãos, saciam a nossa sede. Os rios carregam as nossas canoas e alimentam as nossas crianças, se lhes vendermos nossas terras, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
  • Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para traz os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
  • Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho, talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
  • Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto, mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
  • O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro, o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira, como um homem agonizante há vários dias, é insensivel ao mau cheiro, mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que o céu deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro, se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
  • Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra, se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
  • Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um homem selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos.
  • O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito, pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
  • Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a meus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra, se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
  • Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
  • O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
  • Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possivel que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos, de uma coisa estamos certos, e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês devem pensar que o homem, e sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
  • Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência."
  • (Tradução de Irina O. Bunning)